sábado, 25 de abril de 2015

Para ler duas vezes

Ele caminhava sorrateiro pela rua. Guardava as sombras e se camuflava perfeitamente com seu tom negro como a noite. Procurava não fazer barulhos ao pisar no chão molhado pela chuva. Discrição era imprescindível. Hoje trazia um presente, diferente da noite passada que veio sem nada e mal conseguiu a atenção de sua amada. Ela era interesseira! Interessantemente perfeita.
Ele dançava pela noite com seu caminhar, era mestre nisso. Hoje precisaria usar toda sua sabedoria e charme, seria uma surpresa e ele esperava finalmente se dar bem. Sorriu ao pensar em todo seu escuro se misturando com a claridade dela. Virou a primeira esquina, andando sedutoramente, com seus músculos se contraindo a cada passo e logo adiante, pode vê-la.
Ela era linda, sexy e enigmática. Estava parada olhando a lua – tão clara como ela - e fez um imperceptível movimento quando notou que ele estava chegando. O cheiro dela fez seu coração bater mais forte. Ele poderia sentir aquele perfume a quilômetros de distância. Sua beleza o fazia sentir vontade de ronronar.
Perdeu o sentido com tamanha paixão e acabou pisando em uma poça mais funda, deixando o presente cair ao chão, o barulho a fez olhar para ele. Sem jeito e se amaldiçoando pelo erro, deu um passo para trás e colocou o presente na boca, pulando a grande poça em seguida. Aproximou-se lentamente de sua amada que agora parecia se divertir com tal cena.
Ele sentiu medo de espantá-la, amaldiçoou novamente sua distração infantil, mas ela não se moveu e esperou. Ele pousou o presente aos seus pés e ficou olhando para ela. Graciosa, olhou para ele com seus olhos azuis e depois para o presente. Sentiu o aroma do que ele trazia e sem pensar muito disse em voz baixa:
- Miau!

Ele a havia ganhado! O peixe que roubara fora a escolha perfeita. Hoje a felina mais perfeita daquele beco seria dele e os dois partiram juntos pela noite. Os rabos entrelaçados e o ronronar sincronizado mostravam que as noites nunca mais seriam as mesmas para aquele casal de gatos, antes solitários.

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